Um dos meus sonhos de infância era conhecer a cidade de São Paulo. Desejo alimentado pelas conversas que ouvia sobre o tamanho e a imponência daquela metrópole. Acostumado com a tranqüilidade das ruas de terra do bairro onde morava, ansiava pisar no asfalto da maior e mais movimentada cidade do país. No fundo, no fundo, o que eu desejava era conhecer um pouco o mundo desenvolvido. Afinal, bonde, trem e rua de terra eram sinônimos de subdesenvolvimento. Sinônimo de desenvolvimento era e continua sendo a quantidade de asfalto, de concreto e, principalmente, de automóveis. É o progresso simbolizado eternamente pela indústria automobilística. Incentivada em todos os governos.
A verdade é que esse modelo precisa ser repensado. Principalmente no seu sistema viário. Sistema erguido para contemplar o transporte individual, há muito deixou de satisfazer o motivo da sua própria existência. Existem estudos do Instituto de Energia e Meio-Ambiente demonstrando a queda da velocidade média do trânsito em São Paulo. Por exemplo, de 24,8 Km/h em 1980, para 18 Km/h em 2006. E, paradoxalmente, a pesquisa aponta um decréscimo no sistema de transporte coletivo. Segundo o Instituto, em 1967, ônibus e trens eram responsáveis por 2/3 do transporte de massa. Em 2002, mesmo com a construção do metrô, 53% do transporte era feito por automóveis. Para ajudar ainda mais a compreensão do fenômeno, a quantidade de veículos particulares em São Paulo aumentou 280% nos últimos trinta anos. E, no mesmo período, o crescimento populacional foi de 23%. As conseqüências disso são os congestionamentos monstruosos e os problemas causados à saúde pública. Inclusive problemas psicológicos. O mesmo Instituto aponta os veículos automotores como os maiores responsáveis pela poluição atmosférica em São Paulo. O que representa 73% do monóxido de carbono, 80% dos hidrocarbonetos e 21% do óxido de enxofre. Poluição que provoca problemas respiratórios e cardíacos. Aponta também índices impressionantes de acidentes de trânsito. Uma morte a cada seis horas.
Eu não conheço nenhum estudo parecido em Santos. O que sei é fruto da experiência de ter utilizado o bonde como transporte. E tínhamos aqui uma ampla malha de linhas do transporte mais rápido, não poluente e econômico que existe. E que deixou de existir em nossa região, conseqüência do "desenvolvimento". Lembro, saudoso, do meu pai acertando o relógio na passagem do Bonde 1. Tomara que a linha turística implantada na atual administração continue a ser ampliada. Na verdade, estou torcendo para que ela atinja todas as nossas regiões. Da mesma forma que torço pela contínua expansão das ciclovias. O alargamento, a nivelação, a qualidade do piso e a arborização das calçadas, contemplariam também o pedestre.
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