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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

POVO FESTEIRO, GOVERNO FESTEIRO.

Em um século a população brasileira praticamente decuplicou. Saltou de aproximadamente 17 milhões, em 1.900, para 170 milhões, em 2.000. Quem vivenciou certamente irá lembrar os “90 milhões em ação”, em 1.970, na Copa do México. Os números não mentem, trinta anos depois a populaçào brasileira cresceu mais de 80%. Se considerarmos que no início da década de 60 o Brasil era um país de população predominantemente rural, no final do século o processo se inverteu. O êxodo para as cidades fez com que os municípios crescessem desordenadamente, com todas as consequências possíveis. Principalmente nas condições de moradia.
Para se ter uma ideia, só no Rio de Janeiro, entre 1.970 e 2.000, a quantidade de moradores de favela aumentou consideravelmente. Em 1.970, o censo apurou o equivalente, em números redondos, a 700 mil moradores de favela, para 3,7 milhões habitantes. Três décadas depois, em 2.000, apurou 1,1 hum milhão e cem mil moradores de favela, para 4,8 milhões de habitantes. Hoje, no Brasil todo, não existe um número preciso. Mas são milhões os moradores de favelas. São tantas as favelas que somos o terceiro país do mundo em quantidade.
Segundo alguns cálculos, se o processo de crescimento populacional e de favelização continuar no mesmo ritmo, em 2.020, seis anos após a Copa do Mundo e quatro após os Jogos Olímpicos, ambos os eventos a serem realizados em nosso país, a quantidade de favelados saltará para 55 milhões. Ou alguém duvida da utilização de recursos da área social, da educação ou da saúde para a reforma e construção de equipamentos esportivos superfaturados?
Foi o que aconteceu com a realização do Pan no Rio de Janeiro, estado que concentra uma grande quantidade de favelas e de esgoto sem tratamento que corre a céu aberto. São 20 mil toneladas por minuto que correm em direção às praias e lagoas cariocas. Lá, os equipamentos construidos para o Pan estão sendo subutilizados ou utilizados para outras finalidades. Isso por falta de programas, planejamento e por terem sido construidos muito afastados das zonas mais carentes. Segundo o TCU, existem ainda vários problemas com a prestaçào de contas. Aliás, o Tribunal de Contas da União, instituiçào de fiscalização que deveria ser fortalecida, até para apurar o que vem pela frente, já está sendo alvo de fritura.
A verdade é que somos um povo festeiro. E quem toma conta do nosso dinheiro sabe disso. Não importa se falta moradia, comida trabalho ou educação, alicerces para uma nação forte, pujante, inclusive no esporte. O que importa é fazer obras e fazer festa.

4 comentários:

Leonardo Moreira disse...

Quando no alto da alegria, o povo pulava e comemorava a maravilhosa conquista do Brasil, uns poucos como eu pensavam, no rio temos a pior situação na area de saúde e a grande desculpa era a falta de dinheiro publico, dai vem um evento onde por poucos meses deveos parecer o reino perfeito para o resto do mundo e com isso uma enorme quantia financeira salta e salva as olimpiadas.
Bem, espero que no final dessa história ninguem da plebe precise de um médico durante as olimpiadas ou correrá o risco de ser jogado em uma cova para poder esconder o mal por trás das olimpiadas.

Ibrahim Tauil disse...

Olá, Leonardo! Se vc se refere à alegria com as conquistas no Pan, neste mesmo blog tem um texto meu sobre o assunto. Texto que foi publicado também na Tribuna do Leitor. Comentei que gostaria de ver a mesma alegria das vitórias sobre o Haiti, El Salvador ou Honduras, em Pequim. Criticaram o meu pessimismo, mas a relidade, embora triste, veio à tona. É isso, meu amigo. Você, de certa forma, está vendo como o esporte é frágil. Costumo dizer que é a mais frágil das moedas de troca política. O nosso município é um exemplo dessa fragilidade...abçs

Victor Farinelli disse...

Caro Ibrahim,

Acho que os Jogos Olímpicos trazem mais de positivo que de negativo ao Brasil, embora concorde que existem outros problemas sociais a serem combatidos, e que não podemos achar que esses dois eventos (Olimpíadas e Copa) transformam o país imediatamente em uma potÊncia econômica ou esportiva.

É importante que os avanços sociais sejam proporcionais aos avanços estruturais. É preciso fiscalizar o gasto e fiscalizar o projeto, zelar prá que essa infra estrutura seja aproveitada no futuro, e porque não, tentar recuperar algo dos nossos concorrentes derrotados (por exemplo, Tóquio propôs as Olimpíadas ecológicas, creio que podemos aproveitar muitas dessas idéias pro Rio).

Tambñem concordo que o brasileiro gosta de festa, mas é preciso que o povo tenha acesso a essa festa, e isso tem a ver diretamente com diminuir o abismo social. Será impossível transformar o Brasil numa sociedade mais equitativa em apenas cinco ou sete anos, mas devemos tratar de fazer o possível prá avançar nesse sentido.

Ibrahim Tauil disse...

Eu ainda continuo achando que uma obra deve ser iniciada pela base para chegar ao telhado. E no esporte não pode ser diferente. A base tem de ser um trabalho criterioso nas escolas. Trabalho com princípio, meio, fim e com avaliações periódicas. Falar que os equipamentos serão utilizados para disseminar o esporte junto aos mais carentes é piada. Fosse assim os equipamentos do Pan já estariam sendo. Pra isso acontecer teriam de ser construidos nas regiões mais carentes. Foram? E os Olímpicos, serão?