As ruas de terra que marcaram a minha infância já não existem mais. Da mesma forma que estão deixando de existir os campos da várzea. No estradão, alguns dos últimos campos estão sendo ocupados por prédios de apartamentos. Ambos, as ruas e os campos, eram fontes inesgotáveis de craques. Cenários naturais onde predominava a ludicidade no aprendizado do futebol.
Nas ruas, iniciávamos as nossas atividades com o "pega-pega", o "garrafão", o "jogo de taco", etc. A seguir, o tão esperado "gol-caixote". Eram movimentos naturais e prazerosos. Momentos em que desenvolvíamos todas as nossas capacidades inatas. Capacidades de força, de flexibilidade, de reação, de velocidade, etc. Alicerces para o aprendizado e o desenvolvimento das habilidades com a bola. As ruas estreitas, com valas de esgoto a céu aberto, ajudavam ainda mais no desenvolvimento das várias habilidades. E a ascensão para os campos era natural. Os meninos que se destacavam eram convidados para jogar nos vários times existentes. E como surgiam craques! Dali para um clube profissional era um pulo. Tudo era lúdico, natural e criativo!
Com o desaparecimento daqueles cenários, surgiram as escolinhas de futebol. E junto com elas, profissionais despreparados para trabalhar com crianças. A partir daí, em detrimento do lúdico, a disciplina, a regra e o rendimento passaram a ser as prioridades. A atividade que mais contemplava a infância sob o ponto de vista lúdico, tornou-se mais uma atividade obrigatória(todos os pais desejam para os filhos), maçante e pouco criativa. No esporte mais popular do mundo a infância também passou a ser considerada um entrave para a produtividade.
Talvez seja esse o motivo da profusão de craques naquela época, contra a profusão de atletas na época atual. Fenômeno reforçado ainda mais a partir da aplicação de métodos científicos na preparação física dos jogadores. O que eu não critico. A minha crítica vai para todas as instituições, da família às universidades, que desconsideram a infância e a sua rica motricidade. Ao invés de descartá-la, deveriam considerá-la como a fase mais importante do ser humano. É o mínimo que se pode exigir. E as universidades deveriam considerá-la como objeto de estudos para gerar subsídios à rede de ensino e às escolinhas de esportes.
2 comentários:
Ola ibrahim, gostei muito dos seus textos..estou comecando um projeto pra divulgar mais esses artigos politicos na internet. é o www.elegendo.com.br
gostaria que voce desse uma olhada..e se possivel publicasse alguma coisa lá..
Obrigado!
Obrigado, Rubens!
Eu vou dar uma olhada no site com mais tempo. Por enquanto eu deixei uma resposta junto à sua intervenção na comunidade.
Abraços
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