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domingo, 8 de agosto de 2010

AS LIÇÕES E A HERANÇA DEIXADAS POR MEU PAI

A minha primeira infância foi vivenciada na tradicional Rua Mal. Pego Junior, região central de Santos. Por sinal, extremamente abandonada atualmente. Naquela época, década de 50, morávamos em uma vila, hoje conhecida como cortiço. Lembro da minha avó, uma árabe forte, cozinheira de mão cheia, que todos os dias fazia compras no mercadinho da Vila Mathias, esquina da Senador Feijó com a Rangel Pestana. Mulher simples, direta, primava pela honestidade e dedicação à família. Não esqueço os momentos em que ela saia para as compras me puxando pela mão. Resquícios das lembranças auditiva e gustativa. Eu associava o barulho do seu tamanco na calçada com a perspectiva do que iria comer no almoço.
Outra lembrança muito viva na minha memória é a de meu pai. Porteiro do Hotel Avenida Palace, no Gonzaga, papai trabalhava todos os dias até tarde da noite, inclusive aos sábados e domingos. Sua folga caia no meio da semana, geralmente às quartas-feiras. Da mesma forma que eu ansiava por ir às compras com minha avó, também aguardava com muita expectativa o dia de folga de meu pai. Era o momento de ir à praia, fazer pic-nic , passear de trem ou até mesmo de bonde. Coisas simples, mas que marcaram muito. Mas teve uma das folgas que o passeio foi no centro da cidade. Lembro de ter saído a pé com meu pai que foi pagar algumas contas e fazer outros serviços. Na volta, passando em frente a uma loja de brinquedos, puxei um carrinho de madeira que estava empilhado na calçada. Com o carrinho sendo puxado por uma das mãos, a outra sendo segura por meu pai, fui assim até a esquina de casa. Momento em que meu pai percebeu e perguntou onde eu havia pegado o brinquedo. Não sabendo responder, ele fez todo o caminho de volta comigo. Ao chegarmos na loja, fez com que eu devolvesse o carrinho e pedisse desculpas ao dono.Outra característica do meu velho, mesmo ganhando pouco, era fazer compras e doar parte dos alimentos para famílias carentes.
Foram as lições e a herança deixadas por meu pai. As mais importantes e significativas que existem. Saudades, meu velho...

4 comentários:

ana ribeiro disse...

Muito emocionante li para o meu filho e ele me perguntou se era de verdade,olhei para ele e esta com os olhos marejados, respondi que sim ele disse que bonita.

Ibrahim Tauil disse...

Só nos resta deixar essa herança para os nossos filhos, Ana. Obrigado pela participação. Dê um forte abraço no amigão...

Unknown disse...

Depois q li sobre os Tauil, q vi esse texto lindo falando sobre o vô Jamil...que homem incrível ele deve ter sido...queria mto tê-lo conhecido...fico imaginando todas as coisas q poderíamos ter passado juntos...tenho certeza q ele amaria mto seus netos, da mesma maneira e intensidade q amou mto seus filhos...

Ibrahim Tauil disse...

Sua mãe e a sua tia Lucimar eram os dois xodós dele, Paulinha. Nunca gritou e nunca encostou a mão em nenhum de nós. Exceto quando chutei uma bola no momento em que saia uma noiva pra igreja. Adivinha? A noiva, filha de um oficial do exército, estava atravessando a ponte sobre uma vala e tchbum!!! O vestido dela ficou parecendo o uniforme do Peixe(preto e branco). Fui me esconder no galinheiro da casa do Tio Elias. Quando voltei, seu avô estava me esperando no portão. Ameaçou dar um tapa, mas só me deu um empurrão e fez com que eu ficasse olhando pra ele enquanto me dava um sermão. Durante à noite foi me cobrir...